terça-feira, 17 de julho de 2012

Automedicação: a influência dos veículos de comunicação




       Conforme o preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Política Nacional de Medicamentos, o uso adequado de fármacos requer a sua necessidade real estabelecida, a partir de uma prescrição médica acurada, levando-se sempre em conta a eficácia e a segurança da substância. Além disso, o preço deve ser acessível e as doses e períodos de administração e de tratamento devem ser assiduamente respeitados (AQUINO, 2008).
     Entretanto, esta não tem sido uma realidade amplamente verificada no contexto nacional, pois se observa grande avanço no consumo indiscriminado de medicamentos fazendo da automedicação um problema de saúde pública e um desafio às autoridades sanitárias e governamentais.

[...] Os dados acerca do uso irracional de medicamentos no Brasil são alarmantes. Aproximadamente um terço das internações ocorridas no país tem como origem o uso incorreto de medicamentos. Estatísticas do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelam que os medicamentos respondem por 27% das intoxicações no Brasil, e 16% dos casos de morte por intoxicações são causados por medicamentos (AQUINO, p. 735, 2008).

     Diante disso, os fármacos tornaram-se medidas comuns e precocemente utilizadas para aliviar sintomas e, por muitas vezes, empregados por motivos banais, em consequência, tais produtos tornaram-se alvo de interesses que não muito raramente fogem às questões de estado de saúde e/ou doença. Dessa forma, verifica-se que a publicidade de medicamentos tem sido um estímulo frequente a automedicação. 
     Por meio de muitas campanhas publicitárias o público leigo tende a acreditar nos efeitos prometidos e desconsiderar todos os riscos. Há tempos a indústria farmacêutica vem se utilizando dos empreendimentos de marketing e publicidade para incentivar o consumo, adequando-se conforme a demanda de mercado e estimulando o uso de fármacos (NASCIMENTO, 2008).
   Tendo isso em vista, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por meio da Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) n. 102, proíbe, o estímulo ao uso exacerbado de medicamentos e a afirmação da ausência de efeitos colaterais ou contraindicações nas propagandas. Tal resolução impede ainda a publicidade voltada a medicamentos que necessitam de prescrição médica (SOUZA; MARINHO; GUILAM, 2008).
   As propagandas são fiscalizadas pelo Conselho Nacional de Auto Regulamentação Publicitária (CONAR) e também pela Anvisa. Para a publicação é necessário obrigatoriamente à apresentação de alguns dados, tais como “ao persistirem os sintomas o médico deverá ser consultado”, mas o uso dessa frase, por exemplo, tem sido altamente utilizada pela grande maioria das empresas como um meio de se ausentar de toda e qualquer responsabilidade. O consumidor tem o direito de ter acesso a informações claras, mais isso nem sempre acontece. (SILVA et al., 2007). 
    Na maioria das vezes as propagandas não deixam claras as formas de uso, muito menos os riscos do uso exagerado ou incorreto dos medicamentos. Para minimizar o problema da automedicação é necessário que haja no país uma maior rigidez em relação às propagandas e também uma fiscalização mais ativa a respeito dos medicamentos que não podem ser vendidos sem prescrição médica (SILVA et al., 2007).
    A falta de atenção na utilização de drogas pode deflagrar uma série de efeitos paralelos ao efeito que originalmente se busca, tais como: reações alérgicas, taquifilaxia, refratariedade, hepatotoxicidade, nefrotoxicidade, dependência, subsequentes efeitos crônicos, distúrbios neurológicos, além é claro, dos múltiplos efeitos colaterais concomitantes que podem, inclusive, culminar em óbito (RANG et al., 2007).
   Os profissionais de saúde em geral, incluindo-se a equipe de enfermagem, devem estar atentos aos sinais de uso indiscriminado de fármacos e podem atuar de forma significativa na mudança deste cenário. A automedicação também deve ser trabalhada neste meio em que, muito constantemente se vê o autodiagnostico.
    Portanto, a reafirmação dos códigos de conduta dos profissionais de saúde, a promoção de educação em saúde, a adequação de campanhas publicitárias, a maior fiscalização dos órgãos responsáveis e o melhor acesso aos serviços de saúde são soluções que podem contribuir para a prevenção da automedicação em larga escala. Fomentar discussões acerca desta temática torna-se imprescindível. (TOURINHO et al., 2008; AQUINO, 2008).
     Colega, você percebeu a importância da atuação da equipe de enfermagem no contexto da automedicação?
    Que tal contribuir nos comentários abaixo com a sua experiência e a sua opinião sobre esse assunto?

Texto escrito pela monitora do Programa Proficiência, Talita Candida Castro.


Referências
AQUINO, D. S. de. Por que o uso racional de medicamentos deve ser uma prioridade? Ciência & Saúde Coletiva, v. 13, p. 1651-1660. Rio de Janeiro,  2008. Disponível em: . Acesso em: 04 mai. 2012.

NASCIMENTO, Á. C. Propaganda de medicamentos no Brasil. É possível regular? Ciência & Saúde Coletiva, v. 14. n. 5. p. 869-877. 2009. Disponível em: . Acesso em: 04 mai. 2012.

RANG, H. P. et al. Farmacologia. 6 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

SILVA, D. R. da et al. Publicidade de medicamentos de ontem e de hoje: a responsabilidade da publicidade no incentivo a automedicação. Intercom, Juiz de Fora, 2007. Disponível em: . Acesso em: 04 mai. 2012.

SOUZA, J. F. R de, MARINHO, C. L. C, GUILAM, M. C. R. Consumo de medicamentos e internet: análise crítica de uma comunidade virtual. Rev. Assoc. Med. Bras, v. 54, n. 3. São Paulo, mai.- jun., 2008. Disponível em: . Acesso em: 04 mai. 2012.

TOURINHO, F. S. V. et al. Farmácias domiciliares e sua relação com a automedicação em crianças e adolescentes. Jornal de Pediatria (Rio J.), v. 84,  n. 5. Porto Alegre, set.-out. 2008. Disponível em: . Acesso em: 04 mai. 2012.

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